Estamos muito longe do aceitável, mas existem bons exemplos
O conceito de mobilidade urbana é definido “como a condição que permite o deslocamento das pessoas em uma cidade, com o objetivo de desenvolver relações sociais e econômicas”. Mas, hoje no Brasil é possível afirmar que há acessibilidade na mobilidade urbana? Todos têm a mesma condição de ir e vir, inclusive as pessoas com deficiência?
A resposta é bem simples… não. No entanto, o problema é bem mais complexo do que imaginamos. Quando pensamos na acessibilidade, automaticamente nos vem à mente os cadeirantes (talvez, até pelo ícone da vaga voltada para os PcDs). Bem como, as inúmeras dificuldades encontradas por eles, principalmente no transporte público. Porém, eles são apenas uma parcela dessa população que encontra empecilhos para se deslocar nas nossas cidades.
Infelizmente, os espaços urbanos são extremamente excludentes. Já que não são pensados para quem precisa de alguma adaptação. Ou seja, na prática, cerca de 45 milhões de brasileiros (cerca de 24% da população) não encontra acessibilidade na mobilidade urbana. Os dados são do censo de 2010, feito pelo IBGE, que considera pessoas com algum grau de dificuldade em pelo menos uma das habilidades investigadas: visão, audição, mobilidade ou deficiências invisíveis, como as mentais e intelectuais.
Esse dado não leva em consideração os idosos. A expectativa de vida no Brasil tem aumentado, mas as cidades não estão se adaptando para recebê-los. Aqui estamos falando de cerca de 30,2 milhões de pessoas (IBGE – 2017) com algum grau de dificuldade para enxergar, às vezes com a mobilidade motora e/ou audição comprometida, que também estão sendo excluídos.
A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (PCDs) (13.146) data de julho de 2015. Nela fica definido que se considera “acessibilidade: possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como de outros serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privados de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida”. Apesar disso, a realidade da acessibilidade na mobilidade urbana é bem diferente.
Mas, temos bons exemplos também no Brasil. Podemos destacar Uberlândia (MG), a primeira cidade a ter o transporte público 100% adaptado. Nesse sentido, ganhando o certificado de Boas Práticas em Transporte da ONU Habitat (da Organização das Nações Unidas), em 2012. Isso também é lei no país: ter todos os meios de locomoção adaptados. No entanto, cerca de 88% dos municípios não atendem essa exigência.
Já faz 20 anos que a cidade mineira deu início ao seu plano de acessibilidade junto com planejamento urbano. Segundo a prefeitura, qualquer rua ou construção só é aprovada se considerar a transitabilidade para todos. Do mesmo modo, temos outros municípios com boas práticas nesse sentido. Segundo o site Viagem com Acessibilidade, as cinco principais cidades com acessibilidade urbana são: São Paulo, Uberlândia – MG, Curitiba – PR, Foz do Iguaçu – PR e Rio de Janeiro.
A Liquid Works, como uma empresa que pensa e desenvolve soluções voltadas para a mobilidade urbana, está sempre atenta a projetos que melhoram a vida das pessoas. Como a acessibilidade deve ser um assunto de todos, as iniciativas privadas são muito bem-vindas. Mas, as públicas ainda mais.
Existem diversos aplicativos superinteressantes. Destacamos dois. O Guia de Rodas que mapeia lugares com boa estrutura para locomoção de cadeirantes e pessoas com dificuldade de locomoção. E o Cittamobi Acessibilidade, cujo o objetivo é facilitar o uso do transporte público para deficientes visuais.
Algumas iniciativas públicas também merecem destaque. Em Londres, desde 2009, todos os ônibus passaram a anunciar por voz as paradas e o destino final. Também na cidade, há um sistema simples, desenvolvido na década de 80, que promove a acessibilidade na hora de atravessar a rua. Nos postes há uma caixa instalada onde é possível posicionar a mão na parte de baixo. Ali tem um cone giratório, quando o sinal fica verde ele é ativado avisando que já pode seguir.
É preciso entender que as vias públicas são das pessoas e não dos veículos. Essa mudança de visão somado a empatia de se colocar no lugar do outro é a única solução para sermos mais inclusivos na mobilidade urbana.