As cidades inteligentes estão mais perto de virar realidade no Brasil graças a velocidade ultrarrápida
Mesmo após mais de 30 anos, a internet ainda engatinha no Brasil. Podemos citar inúmeros fatores para isso: tecnologia ultrapassada, preços pouco acessíveis, locais sem conexão, cidades inteiras sem acesso e etc. No entanto, um passo importante foi dado para mudar essa realidade – a entrada do 5G. Com isso, as Smart Cities voltam a ser pauta de muitas gestões municipais.
A tecnologia 5G ainda levará alguns anos para atender todo o território nacional. Primeiramente foi a capital Brasília a receber o avanço, sem seguida São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre e João Pessoa. Apenas em dezembro de 2029 deve estar disponível em todas as cidades. Mas, apesar da longa espera, os municípios que querem se tornar inteligentes precisam iniciar suas mudanças imediatamente.
O conceito de Smart Cities vai muito além de apenas uma internet ultrarrápida. Segundo a União Europeia consiste em “sistemas de pessoas interagindo e usando energia, materiais, serviços e financiamento para catalisar o desenvolvimento econômico e a melhoria da qualidade de vida” (FGV). Nesse sentido, o 5G tem o seu papel. Afinal ele oferece maior velocidade de upload e download de dados e tempos de latência muito curtos. Além de possibilitar que muitos dispositivos se conectem simultaneamente.
O grande trunfo dessa tecnologia para os municípios é justamente o tempo de latência. No caso, estamos falando de menos de 10 milissegundos. Ou seja, os dados são enviados e recebidos praticamente em tempo real. Em comparação a hoje, é metade do 4G mais avançado. Na prática isso significa que carros autônomos, telemedicina mais avançada, sensores da qualidade do ar, estacionamentos inteligentes e outros virem realidade.
Quem conhece o país fora das capitais deve estar achando que está longe da realidade nacional. No entanto, Michel Pfaeffli, pesquisador suíço e autor do estudo Smart City – Essentials for City Leaders (Cidade Inteligente – O Essencial Para Líderes de Cidades), afirmou, em entrevista à revista Exame, que o projeto das Smart Cities cabe bem no Brasil. Ele ainda fala que “em vez de realizar investimento em soluções caras, é possível aproveitar a infraestrutura que já existe para solucionar questões importantes dos espaços urbanos”.
Vale lembrar que, para uma cidade se tornar inteligente, ela precisa ter um olhar 360 graus de toda a gestão urbana. Atualmente não existe um critério oficial, mas a IESE Business School da Espanha criou um Índice de Movimento Urbano que serve para pautar a questão. Nele 9 critérios devem ser levados em conta: Capital Humano, Coesão Social, Economia, Governança, Meio Ambiente, Mobilidade e Transporte, Planejamento Urbano, Conexões Internacionais e Tecnologia.
Em um relatório da Cities in Motion, a cidade de Londres, no Reino Unido, é, atualmente, a mais inteligente do mundo. No Brasil, São Paulo estaria em primeiro lugar, segundo o Connected Smart Cities. Seguido de Florianópolis (SC), Curitiba (PR), Brasília (DF) e Vitória (ES).
Um dos maiores problemas dos grandes centros urbanos é a mobilidade. Dessa forma, esse é um fator primordial na transformação de uma cidade. Por exemplo, Curitiba entrou na lista das 21 cidades inteligentes de 2019, da Intelligent Community Forum, justamente devido ao seu sistema de transporte coletivo e a frota de ônibus híbridos, que reduziu a emissão de CO2.
O principal objetivo é diminuir a circulação de automóveis particulares e oferecer a população uma rede eficiente de transporte público. Nesse sentido, a cidade de Songdo, da Coreia do Sul, foi construída para não se usar carros. Para isso, os serviços foram estruturados próximos a casas e apartamentos. Assim, possibilitando fazer tudo a pé. No entanto, isso não cabe a cidades que tem centenas de anos.
A saída encontrada é uma gestão de tráfego inteligente que envolve vários fatores, entre eles o estacionamento rotativo público. Segundo Pfaeffli à Exame “Utilizar sensores em vagas de um estacionamento, por exemplo, ajuda a reduzir a emissão de CO2 na atmosfera e evita significativamente o tráfego”. Sob o mesmo ponto de vista, a Liquid já possui uma solução de sensores de vagas que pode ser adicionada ao seu software de gestão de estacionamento. Atualmente ela é utilizada, com sucesso, pela empresa Rek Parking em cidades como Bento Gonçalves e Gramado. O próprio conceito de rotatividade proposto por esse tipo de serviço contribui positivamente para as smart cities.
Derli Riffel, Diretor da Liquid, lembra que desde o início a mobilidade urbana sempre esteve no foco da empresa: “Já em 2008/2009 criamos uma solução que substituía as cartelas de papel do estacionamento rotativo por uma solução de tíquete digital e online. O que na época foi uma revolução. A partir daí fomos nos aprimorando até chegar ao sistema que temos hoje”.
Atualmente, o software, criado pela Liquid, permite aos municípios gerenciar de forma completa e em tempo real toda a operação. O que com a tecnologia 5G isso poderá ser expandido com soluções que envolva sensores sonoros, de controle de poluição, entre outros. “A ideia é continuar expandindo essas soluções. Dizemos que o sistema está em constante evolução assim como as cidades”
A tecnologia 5G é um passo importante para as Smart Sities saírem do papel. No entanto, vale lembrar que isso também passa pela vontade política das gestões municipais.