Com milhões de pessoas circulando durante os Jogos Olímpicos, foi preciso ampliar os transportes
São esperados 15 milhões de pessoas em Paris durante os Jogos Olímpicos, o que corresponde a cerca de 1,5 milhão transitando diariamente entre os dias 26 de junho e 11 de agosto. Para garantir que todos cheguem aos locais de competição, e não atrapalhar a vida dos moradores, a cidade precisou rever toda a sua mobilidade urbana e pensar em novas estratégias.
A capital francesa já dispunha de uma ampla rede de transporte público que inclui metrô, trens e ônibus. A ideia era ampliar essa oferta para que se evitasse o uso de carros particulares. Inclusive, vale lembrar que a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, já vem travando essa luta há anos, com banimento de veículos no centro histórico da cidade. Além disso, era necessário tornar todo o deslocamento mais acessível para pessoas com deficiência, já que também sedia os jogos Paraolímpicos.
Paris, assim como outras cidades sedes, passou por anos de obras para receber o que está sendo chamada de Olimpíadas Histórica (devido ao público recorde e à paridade entre os atletas masculinos e femininos). O saldo foi um sistema de metrô renovado com 200 quilômetros, quatro linhas e 68 estações novinhas. Ainda, durante a competição, serão disponibilizadas 10 linhas e 450 ônibus que levarão os espectadores diretamente às provas.
No entanto, o grande legado será os 60 quilômetros de vias exclusivas para ciclistas ligando todos os pontos da competição, que foram somados aos 355 km de ciclofaixas já existentes. Nesse sentido, é a primeira vez que se tem uma Olimpíada 100% ciclável. Para incentivar o uso das bicicletas, a prefeitura ainda renovou a frota e aumentou em 17,5% a oferta, totalizando 20 mil bikes. Também foram aumentados os postos de estacionamento nas instalações esportivas.
A cidade precisou olhar também para a questão da acessibilidade, já que são esperados cerca de 300 mil espectadores com deficiência. Número que pode ser bem maior se somado às pessoas com mobilidade reduzida e idosos. Segundo os organizadores, a ideia era que não houvesse obstáculos durante todo o trajeto “da chegada ao território nacional, até a catraca do estádio”.
Para isso, 240 estações de trens dentro de Paris se tornaram acessível (o que corresponde a 95% do tráfego). Bem como, 100% das estações que ligam outras cidades a capital foram adaptadas. Em relação ao transporte rodoviário, pelo menos 70% das paradas têm acessibilidade e 1000 táxis estão aptos a atender esse público.
Os Jogos Olímpicos de Paris têm chance de entrar para a história também como o primeiro evento que contou com carros voadores. Mas, isso depende de um imbróglio judicial entre a empresa e a prefeitura que, até o momento, ainda não tinha se resolvido.
O Groupe ADP, responsável pelo aeroporto Charles de Gaulle, ganhou do governo francês o direito de implementar uma pista flutuante para táxis aéreos. A ideia é conectar o aeroporto até uma base do Rio Sena e deslocar mais rapidamente de dois a quatro passageiros. Durante os Jogos seria destinado apenas a atletas e membros do Comitê Olímpico. No entanto, após o evento, seria aberto para o público em geral, até o dia 31 de dezembro, quando encerra a licença.
Só que a prefeitura de Paris tem sérias ressalvas quanto a isso. Eles alegam poluição sonora, incomodando os moradores ao longo do trajeto, e aumento da poluição do ar. Segundo informações, os táxis aéreos consumiriam 30 vezes mais energia do que o metrô e emitiriam 45 vezes mais gases de efeito estufa. Lembrando que a cidade vem brigando para ser uma das Olimpíadas mais “verdes” a ser realizada. Além disso, segundo a prefeitura, ainda falta democratização do meio de transporte, já que após os jogos ele custará cerca de €110.
O funcionamento ou não do táxi aéreo não influencia o principal legado dos Jogos Olímpicos de Paris – o incentivo a micromobilidade (assunto que interessa a Liquid Works. Leia mais em A importância da micromobilidade). Mesmo antes do início, entre janeiro e junho de 2024 o número de usuários de bicicleta saltou de 231 mil para 333 mil. Os dados são do SAVM, sindicato responsável pela gestão do serviço público de compartilhamento de bicicletas em Paris. Que esse seja um primeiro passo para outros países verem que é possível.